Meu primeiro sonho com Filipe!

Tive esse sonho alguns dias após a partida do meu Lipe, em janeiro de 2019. Resolvi escrevê-lo agora, para registrar e quem sabe ajudar outras mães, que assim como eu convive com a inexplicável partida de um filho para o mundo espiritual. No sonho eu me via numa grande área verde, parecia um parque, embaixo de uma árvore e acompanhada por duas pessoas. As duas pessoas que me conduziam, se posicionavam bem próximas aos meus ombros, uma de cada lado, mas, eu não as via, só sentia. De onde eu estava eu via ao longe vários galpões grandes e bem iluminados; uma luz clara intensa. Eles ficavam no alto e tinham nas laterais uma rampa de subida e outra de descida. Ao centro de rampa tinha luz forte colorida. Eu via um galpão com luz azul, outro amarelo, outro verde e outro mais distante, lilás. Fiquei olhando com expectativa porque eu sabia que o Lipe estava em um deles, mas não sabia em qual. Lembro-me que a luz amarela me atraia fortemente, era como se ela ficasse tremulando com muita intensidade. Eles então me conduziram para esse galpão, de luz amarela. Subimos pela lateral e ao chegar a porta senti grande movimentação e murmurinhos, barulho de crianças brincando e correndo. Já na porta vi bem próximo à entrada uma cama com muita gente ao redor e com as mãos sobre a pessoa na cama. Todos usavam roupas compridas, cor clara, estavam em pé e faziam movimentos com as mãos alguns movimentos circulares, outros com movimentos de cima pra baixo e outros como se fossem passes, energização algo assim. Os que me conduziam me levaram para os pés dessa cama, mas, a quantidade de pessoas não me deixava ver a cama então fui tentando ver entre uma pessoa e outra. Quando bati os olhos na cama vi o Lipe deitado com olhos fechados e com lençol azul clarinho cobrindo até abaixo do pescoço. Parecia dormir tranquilamente e muito lindo.  Aí ele abriu os olhos como se me procurasse; eu percebi que ele sentiu a minha presença ou abriu os olhos quando eu gritei “filho”! Ele sorriu tanto que mostrando os dentes, mas me pareceu imobilizado, ele só mexia os olhos e os lábios. Eu gritava, queria me jogar em cima dele para abraçar, beijar, falar e os que me conduziam não deixavam eles me seguravam com firmeza. Nesse momento um deles falou ao meu ouvido: mãezinha, tudo no seu tempo! Você não está vendo que ele está bem, sendo cuidado, amparado? Acalme o seu coração! O Lipe sorria muito e como tinha algazarra das crianças eu achei que elas brincavam ou que faziam cócegas. Ele fechou os olhos serenamente e eu continuei chamando por ele. Nesse momento eles começaram a me tirar de lá em direção à porta e eu resistia muito e mais uma vez a voz me falou de forma bem firme. Mãezinha tudo no seu tempo! Acalme o seu coração! Acalme, fique bem! As pessoas ao redor da…

Esse Mário Quintana heim!

Hoje queria um dia feito de horas de oferecer Porque há dias diferentes. Dias especiais em que queremos encomendar o sol, a luz do horizonte, a doçura do ar. Queria oferecer um dia hoje. Um dia perfeito. Embrulhados em momentos guardados Talvez com uma fita cor de certeza calma e um laço pleno de voltas cúmplices. Só um dia. Dado assim... Mário Quintana (1906-1994) foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro.

O vôo, de Menotti Del Picchia

Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti. Não indagues se nossas estradas, tempo e vento, desabam no abismo. Que sabes tu do fim? Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas. Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto. No deslumbramento da ascensão se pressentires que amanhã estarás mudo esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta. Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória. Talvez as canções adormeçam as feras que esperam devorar o pássaro. Desde que nasceste não és mais que um vôo no tempo. Rumo do céu? Que importa a rota. Voa e canta enquanto resistirem as asas. Menotti del Picchia foi um poeta, jornalista, político, romancista, contista, cronista e ensaísta brasileiro.

Biofilia, de Nelma da Silva Sá

Mulher, Natureza Sou complexa, sou simples Nas sutilezas dos emaranhados Revelam-se belezas Mulher, Guerreira Sou divergência, sou convergência Na quietude dos fios esvoaçantes Iluminam-se veredas Mulher, Vida Sou mistério, sou transparência Nas linhas das faces vivas Refletem-se delicadezas Mulher, Feiticeira Sou força, sou incerteza No intervalo dos instantes Desabrocham-se Marias Mulher, Deusa Sou amor, sou natureza No coexistir das diferenças Cultivam-se Biofilias. Biofilia – 16/08/2020 – domingo de outono. Da série “palavras no tempo”, por Nelma da Silva Sá.

Oração Celta

Que o canto da maturidade jamais asfixie a tua criança interior. Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro. Que as perdas do teu caminho sejam sempre encaradas como lições de vida. Que a música seja tua companheira de momentos secretos contigo mesmo. Que os teus momentos de amor contenham a magia de tua alma eterna em cada beijo. Que os teus olhos sejam dois sóis olhando a luz da vida em cada amanhecer. Que cada dia seja um novo recomeço, onde tua alma dance na luz. Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração. Que em cada amigo o teu coração faça festa, que celebre o canto da amizade profunda que liga as almas afins. Que em teus momentos de solidão e cansaço, esteja sempre presente em teu coração a lembrança de que tudo passa e se transforma, quando a alma é grande e generosa. Que o teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente, para que tu percebas a ternura invisível, tocando o centro do teu ser eterno. Que um suave acalanto te acompanhe, na terra ou no espaço, e por onde quer que o imanente invisível leve o teu viver. Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável! Que os teus pensamentos e os teus amores, o teu viver e a tua passagem pela vida, sejam sempre abençoados por aquele amor que ama sem nome. Aquele amor que não se explica, só se sente. Que esse amor seja o teu acalento secreto, viajando eternamente no centro do teu ser. Que a estrada se abra à sua frente. Que o vento sopre levemente às suas costas. Que o sol brilhe morno e suave em sua face. Que respondas ao chamado do teu Dom e encontre a coragem para seguir-lhe o caminho. Que a chama da raiva te liberte da falsidade. Que o ardor do coração mantenha a tua presença flamejante e que a ansiedade jamais te ronde. Que a tua dignidade exterior reflita uma dignidade interior da alma. Que tenhas lugar para celebrar os milagres silenciosos que não buscam atenção. Que sejas consolado na simetria secreta da tua alma. Que sintas cada dia como uma dádiva sagrada tecida em torno do cerne do assombro. Que a chuva caia de mansinho em seus campos... E, até que nos encontremos de novo... Que Deus lhe guarde na palma de suas mãos. Que despertes para o mistério de estar aqui e compreendas a silenciosa imensidão da tua presença. Que tenhas alegria e paz no templo dos teus sentidos. Que recebas grande encorajamento quando novas fronteiras acenam. Que este amor transforme os teus dramas em luz, a tua tristeza em celebração, e os teus passos cansados em alegres passos de dança renovadora. Que jamais, em tempo algum, tu esqueças da Presença que está em ti e em todos os seres. Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz!" Encontrei essa oração em minhas andanças pela internet em vários sites. 

Amo a vida, de Helena Kolody

Amo a vida. Fascina-me o mistério de existir. Quero viver a magia de cada instante, embriagar-me de alegria. Que importa a nuvem no horizonte, chuva de amanhã? Hoje o sol inunda o meu dia. Helena Kolody (1912-2004) foi uma poetisa brasileira, considerada uma das maiores representantes literárias do Estado do Paraná. É autora de vários livros como Paisagem Interior, Memórias de Nhá Mariquinhas, Sinfonia da Vida, dentre outros.

O tempo e o silêncio, de Nelma da S. Sá

Recrio o tempo Que nasce com o aprendizado Numa realidade complexa Que de dentro observa o fora ExtraSer! Transcrio o tempo Da finitude a infinitude do Ser Neste experimento, me experimento Gosto do que está dentro IntraSer! Reivento o tempo Desvendando os enigmas do Ser Num instante de plenitude O verbo que se apresenta InterSer! Transvejo o tempo Transfigurando as algemas do Ser No silêncio da liberdade O amor nutre a alma TransformaSer!

Parábola do beija-flor…

Em tempos nebulosos como esses, da pandemia do coronavirus, em que todos nós temos que fazer o possível pra nos proteger e proteger os outros, lembrei-me da parábola do beija-flor que ouvi do Roberto Crema em um dos seminários da Unipaz. Em uma floresta viviam muitas espécies de animais, cada um vivendo à sua própria maneira. Quando chegou o verão e com ele a seca, os incêndios começara a ameaçar a vida de todos. Num desses incêndios o fogo se espalhava rapidamente, os animais assustados começaram a fugir, o mais longe possível do fogo. No entanto um pequeno beija-flor chamava a atenção dos outros animais porque voava para dentro da floresta. Lá encontrou um lago que ficava escondido por entre as plantas. Então ele enchia seu bico com algumas gotas de água e começou a soltá-la sobre as chamas. Como cabia pouca água em seu bico, ele repetia muitas e muitas vezes. Os outros animais ficavam espantados com a persistência e perguntaram ao beija-flor: o que você está fazendo, você acha que vai conseguir apagar esse incêndio carregando gotinhas de água? O beija-flor, então, olhou para os seus companheiros e respondeu: eu sei que não vou apagar o fogo sozinho, mas estou fazendo a minha parte.