Urgência, de Armando Artur

É urgente inventar novos atalhos. Acender novos archotes e descobrir novos horizontes. É urgente quebrar o silêncio, abrir fendas no tempo e, passo a passo, habitar outras noites coalhadas de pirilampos. É urgente içar novos versos, escalar novas metáforas recalcadas pela angústia. É urgente partir sem medo e sem demora. Para onde nascem sonhos, buscar novas artes de esculpir a vida.   Armando Artur é um escritor moçambicano. Autor de A Reinvenção do ser e a dor da pedra, O Hábito das Manhãs, A Quintessência do Ser dentre outros.

Algumas amizades são eternas, de Pablo Neruda

Algumas vezes você encontra na vida Uma amizade especial: esse alguém que ao entrar na sua vida, muda-a completamente. Esse alguém que lhe faz rir sem cessar; esse alguém que lhe faz acreditar que no mundo existem coisas realmente boas. Esse alguém que lhe convence de que há uma porta pronta para que você a abre. Essa é uma amizade eterna... Quando você está triste e o mundo parece escuro e vazio, essa amizade eterna levanta o seu ânimo e faz que esse mundo escuro e vazio de repente pareça brilhante e pleno. A sua amizade eterna lhe ajuda nos momentos difíceis, tristes, e de grande confusão. Se você se afasta, a sua amizade eterna lhe segue. Se você perde o caminho, a sua amizade eterna guia-lhe e anima-lhe. A sua amizade eterna leva-lhe pela mão e diz-lhe que tudo vai dar certo. Se você encontra tal amizade você se sente feliz e cheio de alegria porque você não tem nada com o que se preocupar. Você tem uma amizade para a vida inteira, já que uma amizade eterna não tem fim.   Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, mais conhecido como Pablo Neruda, foi um escritor e politico chileno. Livros como Crepusculário, Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, dentre outros.

Não te rendas, de Mario Benedetti

Não te rendas, ainda estás a tempo de alcançar e começar de novo, aceitar as tuas sombras enterrar os teus medos, largar o lastro, retomar o voo. Não te rendas que a vida é isso, continuar a viagem, perseguir os teus sonhos, destravar os tempos, arrumar os escombros, e destapar o céu. Não te rendas, por favor, não cedas, ainda que o frio queime, ainda que o medo morda, ainda que o sol se esconda, e se cale o vento: ainda há fogo na tua alma ainda existe vida nos teus sonhos. Porque a vida é tua, e teu é também o desejo, porque o quiseste e eu te amo, porque existe o vinho e o amor, porque não existem feridas que o tempo não cure. Abrir as portas, tirar os ferrolhos, abandonar as muralhas que te protegeram, viver a vida e aceitar o desafio, recuperar o riso, ensaiar um canto, baixar a guarda e estender as mãos, abrir as asas e tentar de novo celebrar a vida e relançar-se no infinito. Não te rendas, por favor, não cedas: mesmo que o frio queime, mesmo que o medo morda, mesmo que o sol se ponha e se cale o vento, ainda há fogo na tua alma, ainda existe vida nos teus sonhos. Porque cada dia é um novo início, porque esta é a hora e o melhor momento. Porque não estás só, por eu te amo. Mario Benedetti é um escritor e poeta uruguaio. Autor de vários livros como Westerday y mañana , Despistes y franquezas; La borra del café, dentre outros.

Mensagem, Auta de Souza

Meu irmão: Tuas preces mais singelas São ouvidas no espaço ilimitado Mas sei que às vezes choras, consternado Ao silêncio da força que interpelas Volve ao teu templo interno abandonado A mais alta de todas as capelas E as respostas mais lúcidas e belas Hão de trazer-te alegre e deslumbrado Ouve o teu coração em cada prece Deus responde em ti mesmo e te esclarece Com a força eterna da consolação Compreenderás a dor que te domina Sob a linguagem pura e peregrina Da voz de Deus, em luz de redenção  

Prece, de Fernando Pessoa

Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu. Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está – (o teu templo)  – eis o teu corpo. Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome. Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. […] Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar. Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te. Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu. Senhor, livra-me de mim.   Fernando Pessoa poeta, escritor, crítico literário, inventor, tradutor, filósofo e comentarista político português. Autor de livros como O livro do desassossego, O eu profundo e os outros eus, dentre outros. Essa poesia foi retirada do livro O Eu Profundo – Obras em Prosa, 1976.

Um amigo, de Filipe Cézar

Um amigo O companheiro o meu querido amigo. Que tantas coisas com ele passei E que me ajudou como Eu o ajudei. Estamos aqui desde a Primeira vez... Um amigo é importante Quando temos um amigo Não nos sentimos só. Nos sentimos felizes, alegres. Um amigo é importante, Não podemos esquecer. Vamos ser felizes e Com ele crescer. Fazer mais amigos é Muito legal. Vamos nos divertir E com todos brincar. Filipe Cezar dos Reis Almeida, 5ª série A, livro Projeto Palavra em ação, IV - Projeto Literário do Colégio Moraes Rego.

Afinal, sempre de J. G. de Araújo Jorge

Sou tua partida e tua chegada e momento de dor e de alegria, o lenço que acena, o riso que espera Quando não és presença Em todos os sentidos Continuas comigo: És saudade. Sou tua partida E tua chegada... Inventamos distâncias Para dar um nó cego Neste amor. J. G. de Araújo Jorge, foi um poeta e político brasileiro. Autor de livros como Meu Céu Interior, Amo, Trevos de Quatro Versos, dentre outros.

A grandeza do mar, de Paulo Roberto Gaefke

A grandeza do mar, de Paulo Roberto Gaefke Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado. A perda faz parte. A queda faz parte. A morte faz parte. É impossível vivermos satisfatoriamente. Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer. Impossível ganhar sem saber perder. Impossível andar sem saber cair. Impossível acertar sem saber errar. Impossível viver sem saber morrer. Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará. Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder. E isto você já sabe. Bem aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte. Retirado do livro “Quando é preciso Viver”