A meus filhos, de Flora Figueiredo
Estou aqui ao lado, à margem de seu caminho, vendo você passar. Quero que vá sozinho mas me mantenho por perto. Se o rumo é certo, me aprumo e aplaudo; se é via tortuosa, jogo-lhe aos pés uma rosa pra que desviando dela você chegue a outro lugar; se a sombra é fria, mando-lhe um beijo quente; se o chão queima do sol nascente, estendo-lhe a poesia para que o possa atenuar, se não houver alimento, peço ao vento sementes que lhe tragam vida. Para a sede, roubo do céu a lágrima caída da madrugada. Mas se você não precisar de nada, ainda assim eu estarei vigiando, escondida talvez atrás de um querubim. Abençoarei sua vida e sua estrada, mesmo que já esteja transformada na forma clara e casta de um jasmim. "Florescência". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
