Entre o Sono e Sonho, de Fernando Pessoa

Entre mim e o que em mim É o quem eu me suponho Corre um rio sem fim. Passou por outras margens, Diversas mais além, Naquelas várias viagens Que todo o rio tem. Chegou onde hoje habito A casa que hoje sou. Passa, se eu me medito; Se desperto, passou. E quem me sinto e morre No que me liga a mim Dorme onde o rio corre — Esse rio sem fim.   Fernando Pessoa poeta, escritor, crítico literário, inventor, tradutor, filósofo e comentarista político português. Autor de livros como O livro do desassossego, O eu profundo e os outros eus, dentre outros.

Novo Milênio, Novo Olhar, de Roberto Crema

Mudar o mundo, É mudar o olhar. Do olhar que estreita e subtrai, para o olhar que amplia e engrandece. Do olhar que julga e condena, para o olhar que compreende e perdoa. Do olhar que teme e se esquiva, para o olhar que confia e atreve. Do olhar que separa e exclui, para o olhar que acolhe e religa. Todos os olhares num só olhar. O olhar da inocência e o olhar da vigilância. O olhar da justiça e o olhar da misericórdia. Todos os olhares num só Olhar. Olhar de criança que brinca na Primavera, olhar de adulto que labora, no verão, olhar de maduro que oferta, no Outuno, olhar de prece e silêncio, no Inverno. O olhar de quem nasce, O olhar de quem passa, O olhar de quem parte. Olhares da existência no Olhar da Essência. Todos os olhares, num só Olhar. Dançar de roda na órbita do olhar, dançar de guerreiro em volta da fogueira do olhar, dançar de Ser no olhar do Amor. Dançar e brincar de olhar. Olhar o porvir, do instante que nasce, no coração palpitante da transmutação. Viva o novo olhar! Olhe a vida de novo! Novo olhar, novo viver! Mudar o mundo É mudar o olhar. É alto olhar, Altar do olhar. É ousar viver. É viver no ousar. É amar viver, É viver para amar. Só então partir, Para o Grande Olhar. Todos os olhares num só Olhar. Num mesmo Olhar. Supremo Olhar Olhar. Roberto Crema é antropólogo e psicólogo, membro honorário da Associação Luso Brasileira de Transpessoal e Reitor da Unipaz - Universidade Internacional da Paz. Autor de vários livros Introdução à visão logística, Saúde e plenitude, Normose, O poder do encontro dentre outros.

Momento presente!

 "O momento presente é o único momento à nossa disposição, e é a porta para todos os momentos."

Chovem duas chuvas, de Cecília Meireles

            Chovem duas chuvas: de água e de jasmins por estes jardins de flores e de nuvens. Sobem dois perfumes por estes jardins: de terra e jasmins, de flores e chuvas. E os jasmins são chuvas e as chuvas, jasmins, por estes jardins de perfume e nuvens

Reflexão, de Oscar Wilde

É preciso comungar com a alegria, a beleza, a cor da vida. Quanto menos se falar dos horrores da vida, melhor se vive. Oscar Wilde

Caminhante, de Antonio Machado

Caminhante, são teus rastros o caminho, e nada mais; caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar. Andando se faz o caminho e olhando para trás se vê a trilha que jamais se voltará a pisar Caminhante, não há caminho, somente ondulações no mar. (tradução: Taunay Daniel)   Antonio Machado foi um poeta espanhol, autor de Soledades,  Galerias, Outros Poemas e Poesias Completas.

Gosto quando me falas de ti, de J. G. de Araújo Jorge

Gosto quando me falas de ti... e vou te percorrendo e vou descortinando a tua vida na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos tranquilos, Gosto quando me falas de ti... e então percebo que antes mesmo de chegar, me adivinhavas, que ninguém te tocou, senão o vento que não deixa vestígios, e se vai desfeito em carícias vãs... Gosto quando me falas de ti... quando aos poucos a luz vasculha todos os cantos de sombra, e eu só te encontro e te reencontro em teus lábios, apenas pintados, maduros, mas nunca mordidos antes da minha audácia. Gosto quando me falas de ti... e muito mais adiantas em teus olhos descampados, sem emboscadas, e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol distendido, e descortino o teu destino, como um caminho certo, cuja primeira curva foi o nosso encontro. Gosto quando me falas de ti... porque percebo que te desnudas como uma criança, sem maldade, e que eu cheguei justamente para acordar tua vida que se desenrola inútil como um novelo que nos cai no chão..." Do livro Quatro Damas, 1965. J. G. de Araújo Jorge, foi um poeta e político brasileiro. Autor de livros como Meu Céu Interior, Amo, Trevos de Quatro Versos, Os mais belos poemas que o amor inspirou, dentre outros.