A vida humana, de Lou Andreas-Salomé
vida humana
– na verdade toda a vida –
vida humana
– na verdade toda a vida –
Flutuar é preciso
Há flores que se comem
como se fossem frutas,
numa comunhão entre
os olhos, a boca, o jardim.
Hibiscos coloridos, caprichosos,
derramam no prato a sua beleza,
passageira como um relâmpago,
e ao morder um hibisco
nos transformamos em poesia.
Poemas são retratos de mim
Pelas lentes do meu coração
Às vezes são viagens líricas
Pelas plumas da imaginação
Assim mesmo são de mim retratos
Em desejos de um coração.
Do livro Poemas para minha mãe bordar.
Toda vez que chove
Brasília me dá um arco-íris.
Toda vez que o sol nasce
ela me oferece um prisma.
Em toda seca Brasília mostra
o espanto do renascer.
Em toda vez que lhe passeio
eu vejo athos, bianchettis,
oscares, vejo burles e brunos
dando vida à meus olhares.
Brasília me leva junto a ela
– passargada encontrada-
sem rei, sem trono, sem dono
lugar de onde bebo a poesia
de onde mordo o amor
de onde canto elegias
de onde essa ana maria
se rende feliz
à
cidade
Ana por ela mesma: “Sou a carioca mais brasiliense do planeta. O Rio de Janeiro está no meu coração mas Brasília é dona da minha alma. Aqui cresci, estudei, plantei árvores, criei filhos e cultivei as minhas conversas com o verso”.
” Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas. Daqui para frente apenas o que couber no bolso e no coração.”
O poema escapa-me
Tangencio sua estética, persigo-o insistentemente,
Mas se ele não quer vir, força-lo é tatear no escuro.
Chego a perceber subliminarmente o seu sentido
Que me escapa ao menor movimento da caneta
Faz tempo que o papel aguarda incólume
Para registrar sua forma
Mas espera em vão!
Por que não vem? Pergunto-lhe
O que lhe falta pra brotar? Indago-lhe
Por que não se cristaliza? Questiono-lhe
Bato à porta porém minhas indagações
Permanecem sem resposta.
A angústia cresce,
Mas a busca e a crença de que ele virá permanecem
Inútil clamar ao Deus da poesia.
O poema vem quando a hora chegar
O poema, como a semente, tem a sua hora de brotar
Chegou a hora de encarar uma nova etapa, pois é tempo de se refazer e, se for preciso, sair das cinzas!