Amo a vida, de Helena Kolody

Amo a vida.
Fascina-me o mistério de existir.

Quero viver a magia
de cada instante,
embriagar-me de alegria.

Que importa a nuvem no horizonte,
chuva de amanhã?
Hoje o sol inunda o meu dia.

Helena Kolody (1912-2004) foi uma poetisa brasileira, considerada uma das maiores representantes literárias do Estado do Paraná. É autora de vários livros como Paisagem Interior, Memórias de Nhá Mariquinhas, Sinfonia da Vida, dentre outros.

O tempo e o silêncio, de Nelma da S. Sá

Recrio o tempo
Que nasce com o aprendizado
Numa realidade complexa
Que de dentro observa o fora
ExtraSer!

Transcrio o tempo
Da finitude a infinitude do Ser
Neste experimento, me experimento
Gosto do que está dentro
IntraSer!

Reivento o tempo
Desvendando os enigmas do Ser
Num instante de plenitude
O verbo que se apresenta
InterSer!

Transvejo o tempo
Transfigurando as algemas do Ser
No silêncio da liberdade
O amor nutre a alma
TransformaSer!

Parábola do beija-flor…

Em tempos nebulosos como esses, da pandemia do coronavirus, em que todos nós temos que fazer o possível pra nos proteger e proteger os outros, lembrei-me da parábola do beija-flor que ouvi do Roberto Crema em um dos seminários da Unipaz.

Em uma floresta viviam muitas espécies de animais, cada um vivendo à sua própria maneira. Quando chegou o verão e com ele a seca, os incêndios começara a ameaçar a vida de todos. Num desses incêndios o fogo se espalhava rapidamente, os animais assustados começaram a fugir, o mais longe possível do fogo. No entanto um pequeno beija-flor chamava a atenção dos outros animais porque voava para dentro da floresta. Lá encontrou um lago que ficava escondido por entre as plantas. Então ele enchia seu bico com algumas gotas de água e começou a soltá-la sobre as chamas. Como cabia pouca água em seu bico, ele repetia muitas e muitas vezes. Os outros animais ficavam espantados com a persistência e perguntaram ao beija-flor: o que você está fazendo, você acha que vai conseguir apagar esse incêndio carregando gotinhas de água?

O beija-flor, então, olhou para os seus companheiros e respondeu: eu sei que não vou apagar o fogo sozinho, mas estou fazendo a minha parte.

Urgência, de Armando Artur

É urgente inventar novos atalhos.

Acender novos archotes

e descobrir novos horizontes.

É urgente quebrar o silêncio,

abrir fendas no tempo

e, passo a passo, habitar outras noites

coalhadas de pirilampos.

É urgente içar novos versos,

escalar novas metáforas

recalcadas pela angústia.

É urgente partir sem medo

e sem demora.

Para onde nascem sonhos,

buscar novas artes de

esculpir a vida.

 

Armando Artur é um escritor moçambicano. Autor de A Reinvenção do ser e a dor da pedra, O Hábito das Manhãs, A Quintessência do Ser dentre outros.

Algumas amizades são eternas, de Pablo Neruda

Algumas vezes você encontra na vida
Uma amizade especial:
esse alguém que ao entrar na sua vida,
muda-a completamente.

Esse alguém que lhe faz rir sem cessar;
esse alguém que lhe faz acreditar que no mundo
existem coisas realmente boas.

Esse alguém que lhe convence
de que há uma porta pronta
para que você a abre.
Essa é uma amizade eterna…

Quando você está triste
e o mundo parece escuro e vazio,
essa amizade eterna levanta o seu ânimo
e faz que esse mundo escuro e vazio
de repente pareça brilhante e pleno.

A sua amizade eterna lhe ajuda
nos momentos difíceis, tristes,
e de grande confusão.
Se você se afasta,
a sua amizade eterna lhe segue.
Se você perde o caminho,
a sua amizade eterna guia-lhe e anima-lhe.
A sua amizade eterna leva-lhe pela mão
e diz-lhe que tudo vai dar certo.

Se você encontra tal amizade
você se sente feliz e cheio de alegria
porque você não tem nada com o que se preocupar.
Você tem uma amizade para a vida inteira,
já que uma amizade eterna não tem fim.

 

Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, mais conhecido como Pablo Neruda, foi um escritor e politico chileno. Livros como Crepusculário, Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, dentre outros.

Não te rendas, de Mario Benedetti

Não te rendas, ainda estás a tempo
de alcançar e começar de novo,
aceitar as tuas sombras
enterrar os teus medos,
largar o lastro,
retomar o voo.

Não te rendas que a vida é isso,
continuar a viagem,
perseguir os teus sonhos,
destravar os tempos,
arrumar os escombros,
e destapar o céu.

Não te rendas, por favor, não cedas,
ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda,
ainda que o sol se esconda,
e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma
ainda existe vida nos teus sonhos.

Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,
porque o quiseste e eu te amo,
porque existe o vinho e o amor,
porque não existem feridas que o tempo não cure.

Abrir as portas,
tirar os ferrolhos,
abandonar as muralhas que te protegeram,
viver a vida e aceitar o desafio,
recuperar o riso,
ensaiar um canto,
baixar a guarda e estender as mãos,
abrir as asas
e tentar de novo
celebrar a vida e relançar-se no infinito.

Não te rendas, por favor, não cedas:
mesmo que o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
ainda há fogo na tua alma,
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo início,
porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, por eu te amo.

Mario Benedetti é um escritor e poeta uruguaio. Autor de vários livros como Westerday y mañana , Despistes y franquezas; La borra del café, dentre outros.

Mensagem, Auta de Souza

Meu irmão: Tuas preces mais singelas
São ouvidas no espaço ilimitado
Mas sei que às vezes choras, consternado
Ao silêncio da força que interpelas

Volve ao teu templo interno abandonado
A mais alta de todas as capelas
E as respostas mais lúcidas e belas
Hão de trazer-te alegre e deslumbrado

Ouve o teu coração em cada prece
Deus responde em ti mesmo e te esclarece
Com a força eterna da consolação

Compreenderás a dor que te domina
Sob a linguagem pura e peregrina
Da voz de Deus, em luz de redenção

 

Prece, de Fernando Pessoa

Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu. Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está – (o teu templo)  – eis o teu corpo.

Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.

Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. […]

Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.

Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.

Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu. Senhor, livra-me de mim.

 

Fernando Pessoa poeta, escritor, crítico literário, inventor, tradutor, filósofo e comentarista político português. Autor de livros como O livro do desassossego, O eu profundo e os outros eus, dentre outros.

Essa poesia foi retirada do livro O Eu Profundo – Obras em Prosa, 1976.

Um amigo, de Filipe Cézar

Um amigo

O companheiro

o meu querido amigo.

Que tantas coisas com ele passei

E que me ajudou como

Eu o ajudei.

Estamos aqui desde a

Primeira vez…

Um amigo é importante

Quando temos um amigo

Não nos sentimos só.

Nos sentimos felizes, alegres.

Um amigo é importante,

Não podemos esquecer.

Vamos ser felizes e

Com ele crescer.

Fazer mais amigos é

Muito legal.

Vamos nos divertir

E com todos brincar.

Filipe Cezar dos Reis Almeida, 5ª série A, livro Projeto Palavra em ação, IV – Projeto Literário do Colégio Moraes Rego.