Esse Mário Quintana heim!
Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o
de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre
para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens
na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e
de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um vôo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota.
Voa e canta enquanto resistirem as asas.
Menotti del Picchia foi um poeta, jornalista, político, romancista, contista, cronista e ensaísta brasileiro.
Mulher, Natureza
Sou complexa, sou simples
Nas sutilezas dos emaranhados
Revelam-se belezas
Mulher, Guerreira
Sou divergência, sou convergência
Na quietude dos fios esvoaçantes
Iluminam-se veredas
Mulher, Vida
Sou mistério, sou transparência
Nas linhas das faces vivas
Refletem-se delicadezas
Mulher, Feiticeira
Sou força, sou incerteza
No intervalo dos instantes
Desabrocham-se Marias
Mulher, Deusa
Sou amor, sou natureza
No coexistir das diferenças
Cultivam-se Biofilias.
Biofilia – 16/08/2020 – domingo de outono. Da série “palavras no tempo”, por Nelma da Silva Sá.
Amo a vida.
Fascina-me o mistério de existir.
Quero viver a magia
de cada instante,
embriagar-me de alegria.
Que importa a nuvem no horizonte,
chuva de amanhã?
Hoje o sol inunda o meu dia.
Helena Kolody (1912-2004) foi uma poetisa brasileira, considerada uma das maiores representantes literárias do Estado do Paraná. É autora de vários livros como Paisagem Interior, Memórias de Nhá Mariquinhas, Sinfonia da Vida, dentre outros.
Recrio o tempo
Que nasce com o aprendizado
Numa realidade complexa
Que de dentro observa o fora
ExtraSer!
Transcrio o tempo
Da finitude a infinitude do Ser
Neste experimento, me experimento
Gosto do que está dentro
IntraSer!
Reivento o tempo
Desvendando os enigmas do Ser
Num instante de plenitude
O verbo que se apresenta
InterSer!
Transvejo o tempo
Transfigurando as algemas do Ser
No silêncio da liberdade
O amor nutre a alma
TransformaSer!
É urgente inventar novos atalhos.
Acender novos archotes
e descobrir novos horizontes.
É urgente quebrar o silêncio,
abrir fendas no tempo
e, passo a passo, habitar outras noites
coalhadas de pirilampos.
É urgente içar novos versos,
escalar novas metáforas
recalcadas pela angústia.
É urgente partir sem medo
e sem demora.
Para onde nascem sonhos,
buscar novas artes de
esculpir a vida.
Armando Artur é um escritor moçambicano. Autor de A Reinvenção do ser e a dor da pedra, O Hábito das Manhãs, A Quintessência do Ser dentre outros.
Algumas vezes você encontra na vida
Uma amizade especial:
esse alguém que ao entrar na sua vida,
muda-a completamente.
Esse alguém que lhe faz rir sem cessar;
esse alguém que lhe faz acreditar que no mundo
existem coisas realmente boas.
Esse alguém que lhe convence
de que há uma porta pronta
para que você a abre.
Essa é uma amizade eterna…
Quando você está triste
e o mundo parece escuro e vazio,
essa amizade eterna levanta o seu ânimo
e faz que esse mundo escuro e vazio
de repente pareça brilhante e pleno.
A sua amizade eterna lhe ajuda
nos momentos difíceis, tristes,
e de grande confusão.
Se você se afasta,
a sua amizade eterna lhe segue.
Se você perde o caminho,
a sua amizade eterna guia-lhe e anima-lhe.
A sua amizade eterna leva-lhe pela mão
e diz-lhe que tudo vai dar certo.
Se você encontra tal amizade
você se sente feliz e cheio de alegria
porque você não tem nada com o que se preocupar.
Você tem uma amizade para a vida inteira,
já que uma amizade eterna não tem fim.
Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, mais conhecido como Pablo Neruda, foi um escritor e politico chileno. Livros como Crepusculário, Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, dentre outros.
Não te rendas, ainda estás a tempo
de alcançar e começar de novo,
aceitar as tuas sombras
enterrar os teus medos,
largar o lastro,
retomar o voo.
Não te rendas que a vida é isso,
continuar a viagem,
perseguir os teus sonhos,
destravar os tempos,
arrumar os escombros,
e destapar o céu.
Não te rendas, por favor, não cedas,
ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda,
ainda que o sol se esconda,
e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,
porque o quiseste e eu te amo,
porque existe o vinho e o amor,
porque não existem feridas que o tempo não cure.
Abrir as portas,
tirar os ferrolhos,
abandonar as muralhas que te protegeram,
viver a vida e aceitar o desafio,
recuperar o riso,
ensaiar um canto,
baixar a guarda e estender as mãos,
abrir as asas
e tentar de novo
celebrar a vida e relançar-se no infinito.
Não te rendas, por favor, não cedas:
mesmo que o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
ainda há fogo na tua alma,
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo início,
porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, por eu te amo.
Mario Benedetti é um escritor e poeta uruguaio. Autor de vários livros como Westerday y mañana , Despistes y franquezas; La borra del café, dentre outros.
Meu irmão: Tuas preces mais singelas
São ouvidas no espaço ilimitado
Mas sei que às vezes choras, consternado
Ao silêncio da força que interpelas
Volve ao teu templo interno abandonado
A mais alta de todas as capelas
E as respostas mais lúcidas e belas
Hão de trazer-te alegre e deslumbrado
Ouve o teu coração em cada prece
Deus responde em ti mesmo e te esclarece
Com a força eterna da consolação
Compreenderás a dor que te domina
Sob a linguagem pura e peregrina
Da voz de Deus, em luz de redenção