Receita de olhar, de Roseana Murray

Nas primeiras horas da manhã

desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol
faça do seu olhar imensa caravela

Cinco coisas, de Pablo Neruda

Quero apenas cinco coisas
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser, sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

 

Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, mais conhecido como Pablo Neruda, foi um escritor e politico chileno. Livros como Crepusculário, Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, dentre outros.

A vida humana, de Lou Andreas-Salomé

vida humana
– na verdade toda a vida –

É poesia.
Nós a vivemos inconscientemente,
dia a dia,
fragmento a fragmento,
mas na sua totalidade
inviolável,
Ela é que nos vive!

Alma flutuante, de Lolô Fonseca

Alma flutuante

Flutuar é preciso

É uma alma  silenciosa
E branda a que habita em  mim.
Uma alma que procura
O mais alto,
O mais sublime,
O mais além,
O mais forte,
O mais distante…
Uma alma flutuante que vai
Ao encontro do nada
De um mundo perdido.

Hibisco, de Roseana Murray

Há flores que se comem
como se fossem frutas,
numa comunhão entre
os olhos, a boca, o jardim.
Hibiscos coloridos, caprichosos,
derramam no prato a sua beleza,
passageira como um relâmpago,
e ao morder um hibisco
nos transformamos em poesia.

Auto-retratos, de Klaus Marcus Paranayba

Poemas são retratos de mim
Pelas lentes do meu coração

Às vezes são viagens líricas
Pelas plumas da imaginação

Assim mesmo são de mim retratos
Em desejos de um coração.

Do livro Poemas para minha mãe bordar.

Vale a pena pra mim…

Olhar a chuva, ouvir o barulhinho no telhado, sentir o cheiro de terra molhada;
Dar umas boas gargalhadas com meu marido, meus filhos e meus amigos;

 

Alegrar-me com algumas lembranças;
Conversar por horas com alguém que conheço desde sempre;
Ter certeza de que sou muito amada por Deus;
Receber um “oi”, e-mail ou um “curtir”
Reencontrar alguém que não vejo há muito tempo;
Ler um bom livro;
Trabalhar com o que eu mais gosto;
Tocar, cantar ou ouvir minhas músicas preferidas;
Aprender coisas novas.

Brasília, de Ana Maria Lopes

Toda vez que chove
Brasília me dá um arco-íris.
Toda vez que o sol nasce
ela me oferece um prisma.
Em toda seca Brasília mostra
o espanto do renascer.
Em toda vez que lhe passeio
eu vejo athos, bianchettis,
oscares, vejo burles e brunos
dando vida à meus olhares.
Brasília me leva junto a ela
– passargada encontrada-
sem rei, sem trono, sem dono
lugar de onde bebo a poesia
de onde mordo o amor
de onde canto elegias
de onde essa ana maria
se rende feliz
à
cidade

Ana por ela mesma: “Sou a carioca mais brasiliense do planeta. O Rio de Janeiro está no meu coração mas Brasília é dona da minha alma. Aqui cresci, estudei, plantei árvores, criei filhos e cultivei as minhas conversas com o verso”.