Sonhos, de Ana Maria Lopes

Sonhos Não sei quantas vezes em minha vida eu sonhei. Falo dos sonhos em alerta os sonhos sonhados despertos. O sonho é amigo e cúmplice da fantasia. Às vezes, sonho e fantasia se misturam tanto que geram espanto quando os tentamos separar. E a farra da mistura é tamanha que quando vamos um do outro decifrar, não sabemos se o sonho se vestiu de fantasia ou se a fantasia escapou para sonhar.     Ana Mara Lopes nasceu no Rio de Janeiro, mas radicada em Brasília. É escritora, poeta e  jornalista brasileira.

Despertar, de Aglaia Souza

Doce segredo se espalha sob o solo, entre as paineiras Suave melodia acorda as flores das buganvílias. Secreto código solta o perfume das roseiras. Um terno convite tece as cores das espatódeas. Um relógio dita as horas do despertar dos ipês. A batuta rege o tempo do romper dos flamboyants. Um riacho murmureja nos subterrâneos do barro. A vida risca seus tons em galhos secos, cerrados. Do livro Poemas para Brasília - antologia, de Joanir de Oliveira. Poesia de Aglaia Souza, poetisa, cronista e escritora brasiliense.

O lugar de ser feliz, de Joanyr de Oliveira.

Deus abriu a janela do mundo e nela projetou o céu do cerrado. Acendeu o diamante azul do dia na esplanada do destino. As nuvens saem do chão, numa explosão álacre de âmbar. A lua é um pássaro de bruma na textura esvoaçante. Pode-se descansar do mormaço num banco de concreto, olhando o trânsito da Asa Sul, na fronteira da 307, à sombra das horas, na liberdade da vida sem perigos. Ninguém me perguntará onde moro ou o que faço nesta quadra de Brasília, em frente a uma biblioteca, no espaço livre da vida. Poema transcrito da antologia “Poemas para Brasília”, de Joanyr de Oliveira. Márcio Catunda é escritor, poeta, compositor e diplomata brasileiro, autor de Noites Claras, No Chão do Destino, A Essência da Espiritualidade dentre outros.

Alma flutuante, de Lolô Fonseca

Alma flutuanteFlutuar é preciso É uma alma  silenciosaE branda a que habita em  mim.Uma alma que procuraO mais alto,O mais sublime,O mais além,O mais forte,O mais distante...Uma alma flutuante que vaiAo encontro do nadaDe um mundo perdido.

Auto-retratos, de Klaus Marcus Paranayba,

Poemas são retratos de mim Pelas lentes do meu coração Às vezes são viagens líricas Pelas plumas da imaginação Assim mesmo são de mim retratos Em desejos de um coração. Do livro Poemas para minha mãe bordar.

Poema, de Júlio Cézar dos Reis Almeida

O poema escapa-meTangencio sua estética, persigo-o insistentemente,Mas se ele não quer vir, força-lo é tatear no escuro.Chego a perceber subliminarmente o seu sentidoQue me escapa ao menor movimento da canetaFaz tempo que o papel aguarda incólumePara registrar sua formaMas espera em vão!Por que não vem? Pergunto-lheO que lhe falta pra brotar? Indago-lhePor que não se cristaliza? Questiono-lheBato à porta porém minhas indagaçõesPermanecem sem resposta.A angústia cresce,Mas a busca e a crença de que ele virá permanecemInútil clamar ao Deus da poesia.O poema vem quando a hora chegarO poema, como a semente, tem a sua hora de brotar

Maturidade, de Nida Chalegre

Maturidadeé aquela capacidadeque nos dá a tranquilidadede errare recomeçarde amare se não durarnão se desesperarde se entregarsem nada esperarsem pedir nem cobrarde saberque se tudo se desvanecervocê não vai morreroutros caminhos irão certamente aparecer

De pétalas e palavras, de Dora Ramos

Pétalas caladas futuro ressecado pétalas prisioneiras criando o perfil de um perfume dispensável Pétalas desgarradas em novo cenário pontilhado pelo vento, pétalas falantes girando pelo ar, mistura cheiro de terra, retalhos de flores e folhas, fragrância de liberdade, mesclando um perfil de vida. Palavras trazem as pétalas de luz! Pétalas passageiras! Pétalas eternas!    Dora Ramos é autora dos livros De volta ao Jardim -  Reencontros, Contos contados e Terceiro Passo