Lição – Julio Cezar dos Reis Almeida

O menino estuda a lição,Dividido entre o que aprendeE os sons da rua que lhes chegam pela janela.A mãe faz tricô.A vó cochila na cadeira de balanço.O menino olha a rua.A rua irresistível que o chama...-Mamãe! Posso brincar?-Agora, não! Primeiro termine a lição.Terminei a lição.Mamãe não faz tricô.Vovó não cochila.Fecho a janela para que o barulho da ruaNão acorde as duas que dormemNo tempo estático das lembranças.-Mamãe, terminei!-Vá brincar, mas não demore!O tempo passou,Mas as lições da existência permanecem inconclusas.Hoje me pergunto:-Onde estão as plantas da minha vó?Os canteiros estão desfeitos.-Onde estão os novelos de minha mãe?A lã da existência acabou,Mas deixou o amaro gosto do sol da saudadeQue teima em brilhar nas lembranças.Se a lã do tempo tece o próprio novelo,A lição da ausênciaAprende-se com nó na garganta

Brasil: pés descalços, dentes cariados – Julio Cézar dos Reis Almeida

Pingo D’agua A vida é pingo d’água Que dura pouco mais que a aurora. Evapora sem demora. Tão cedo chega, tão cedo vai embora. Nem bem a gente começa a aprender, Chega a hora. A hora triste de ir embora. Que gota preciosa Esta que vai escrevendo a cada frase A nossa história. A humanidade deságua de um lado E do outro lado evapora. É chegar e ir embora, A cada instante, a cada hora.