Lua Nua – poesia de Julio Cézar

Uma lua nuaBailou no céuDe uma noite que cheirava a cravo e a mel.Queria mostrar o seu encantoPara isto se desfez do seu véu.E nua,Na noite pintada de breu,Dançou para os olhos meus.Testemunhas como eu,Uma multidão de estrelasAplaudiu os passos seus.Como palco,A lua bailarina tinha o firmamento.E como foco de luz,Os meus olhos atentos.A paixão loucaEntre a lua e o poetaDurou pouco.Porém, marcou o meu coraçãoBem no fim do mundo.Esse balé, rico de graça e de luz,Ficará gravado na minha menteA vida inteira.Se te deu água na boca,Feche os olhos,Abra a caixa de sonhos e deixe a ilusão voar...É assim que se aprende a amar.

Poema de Natal – Vinícius de Moraes

Adoro Vinícius de Moraes e dele encontrei esse poema, um poema de Natal: "Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente." Vinícius de Moraes foi um poeta, dramaturgo, cantor e compositor brasileiro, jornalista e diplomata. Autor de vários livros, poemas e canções. Livros como O caminho para a distância. Forma e exegese, Novos poemas, Antologia poética, Para viver um grande amor dentre outros.

Sobre o livro, de João Cabral de Melo Neto

Silencioso: quer fechado ou aberto, incluso o que grita dentro; Anônimo: só expõe o lombo, posto na estante, que apaga em pardo todos os lombos; Modesto: só se abre se alguém o abre, e tanto o posto do quadro na parede, aberto a vida toda, quanto da música, viva apenas enquanto voam suas redes. Mas apesar disso e apesar de paciente (deixa-se ler onde queiram) Severo: exige que lhe extraiam, o interroguem e jamais exala: fechado, mesmo aberto.

Orgulho e renuncia, de J.G. de Araujo Jorge

Uma querida amiga Judite Oliveira, que há muitos anos não vejo, deixou registrado em meu caderno de recordações, ainda em Bom Jesus da Lapa/BA, esse poema de J.G de Araújo Jorge. Orgulho e renunciaNão penses que a mentira me consola: parte em silêncio, será bem melhor... Se tudo terminou a tua esmola meu sofrimento ainda fará maior... Não te condeno nem te recrimino, ninguém tem culpa do que aconteceu... Nem posso contrariar o meu destino nem tu podias contrariar o teu! Sofro que importa? mas não te censuro, o inevitável quando chega é assim, -se esse amor não devia Ter futuro foi bem melhor precipitar seu fim... Não te condeno nem te recrimino tinha que ser! Tudo passou, morreu! Cada qual traz do berço seu destino e esse afinal, bem doloroso, são o meu! Estranho, é que a afeição quando se acabe, traga inútil consolo ao nosso fim quando penso que ainda ontem, - quem o sabe? tenha sentido algum amor por mim... Não procures mentir. Compreendo tudo. Tudo por si justificado está: - não tens culpa se te amo... se me iludo, se a vida para mim é que foi má... Vês? Meus olhos chorando estão contentes! Não fales nada. Vai! Ninguém te obriga a dizeres aquilo que não sentes, nem eu preciso disto minha amiga...  Parte. E que nunca sofrer alguém te faça o que sofri com o teu ingênuo amor; - pensa que tudo morre, tudo passa, que hei de esquecer-te, seja como for... Pensa que tudo foi uma tolice...Só mais tarde, bem sei, - compreenderás as palavras de dor que não te disse e outras, de amor... que não direi jamais